Fernandes, Florestan. A Integração Do Negro Na Sociedade De Classes



(3ª edição São Paulo editora Ática, volume 1)

Resenhado por – José Waldeyr Santos Adelino

Ciências Sociais – Licenciatura UFRN

O livro “A Integração do Negro na Sociedade de Classes” de Florestan Fernandes busca mostrar que a desagregação dos padrões de vida de produção escravista não foi a causa para o problema do negro. O estado de opressão, de criação e reprodução dos estereótipos sobre a “população negra”, não foi “a causa”, mas serviu de base para transpassar os costumes escravistas da “nobreza agrária” para os coronéis e para o meio urbano. Outros fatores, esses muito relevantes, foram peça chave para o insucesso e infelicidade do negro na nova ordem social que se instaurou.

A revolução urbana e o desenvolvimento de uma burguesia no Brasil (especialmente em São Paulo) junto com a herança escravista; a dominação da “raça” branca; o paternalismo; a cordialidade; entre outros costumes que ajudaram a pôr o negro nesse estado, como se para a sociedade ele fosse dependente, inferior e incapaz.

Todas essas coisas serviram para alavancar as desigualdades, a desorganização social e a exclusão do negro e do mulato na população brasileira.

Para que houvesse uma revolução urbana em São Paulo, seria preciso que antes acontecesse uma ruptura nos modos de vivencia da sociedade. Para isso o Antigo Regime deveria cair e com ele se dissipar o sistema escravocrata, pois a bases capitalistas precisavam de muita mão de obra no meio urbano para se desenvolverem e, o sistema capitalista necessitava de trabalho livre para o sistema vigorar. Os escravos logo foram vistos como uma responsabilidade árdua, mantê-los vivos e na lavoura era trabalhoso para os fazendeiros que almejavam maiores lucros, então viram na libertação dos escravos uma dádiva, porém, mesmo com a vinda das tendências abolicionistas de caráter humanitário, a ideia nunca fora dar ao escravo liberdade incondicional, o escravo seria liberto, mas passaria de “negro-escravo trabalhador da lavoura” para “negro-liberto trabalhador da lavoura”. Apesar de livre da escravidão o negro não foi liberto do seu posto inferior perante ao homem branco, continuava submisso ao mesmo.

O século XIX foi o período de aceleração do crescimento urbano, mas o negro continuava sem ferramentas e mecanismos sociais e, meios econômicos para subir na vida. Mesmo quando o negro conseguia algum trabalho, não tinha grande expressão e se mostrava anticapitalista (pois o negro não tinha ânsia pela acumulação de riqueza), como por exemplo o artesanato, que proporcionou ao liberto ascensão econômica e social, mas logo todas as oportunidades do negro e do mulato de subirem na vida se viram sufocadas, pois o homem branco nacional não confiava ao negro cargos importantes, porque via no negro um perigo e acreditava que o mesmo quando tivesse uma posição, um status, este faria uma revolução e tomaria os bens materiais, sua propriedade e o poder que ele, o homem branco, adquiriu. A “população branca” acreditava e reproduzia o preconceito de que o negro era selvagem por natureza, então nesse momento, do meio para o final do século XIX o Brasil passa a receber um grande número de imigrantes que ocupavam todas as oportunidades de emprego que existiam.

São Paulo a cidade que mais recebeu imigrantes, ficou conhecida como cidade estrangeira. O imigrante (principalmente o italiano que chegou em maior quantidade)detinha maiores meios para se incluir no sistema comercial, com mais experiência e,mecanismos para lutar por espaço, rejeitava trabalhos que as condições não fossem descentes, pois já vinham de países capitalistas e eles não tinham as barreiras invisíveis que barravam o negro de buscar ascensão social, e por não serem “de cor” eram aceitos sem grandes termos pelo empregador branco nacional. O imigrante disputava até 
mesmo com a alta camada dominante por oportunidades, se ocupava mesmo em trabalhos degradantes como; engraxar sapatos, artesanato, pintor ou no comércio. O negro e o mulato, foram aniquilados por não terem mecanismos que pudessem mantê-los em suas posições já ganhas, ou para lutar por outras oportunidades. Sobrou ao negro e o mulato duas escolhas irremediáveis; a entrada gradual do trabalho operário em crescimento urbano no posto de escoria; ou se entregar a vagabundagem sistêmica ou buscar na criminalidade a subsistência e o reconhecimento de sua existência na sociedade, caracterizando também uma forma de protesto para esse estado que aparece quase insanável do qual o negro e o mulato foram jogados.

Apesar das inovações institucionalistas feitas para a “grande-empresa agraria”pensadas para o trabalho livre e suas relações de troca no mercado, adotadas na revolução burguesa, os hábitos e costumes continuaram a imperar a dominação patrimonialista. O negro e mulato foram usados para desagregar o sistema de castas,eles sabiam o que queriam, a liberdade era alcançável, porém, não sabiam o que fazer coletivamente, agir socialmente, pois não tinham consciência do que fazer depois, logo,sua participação não foi revolucionária nem organizada, não os deram as ferramentas para lutar contra a escravidão nem as ferramentas para viverem livres. O negro e o mulato então foram deixados ao seu próprio destino, sua própria sorte. Restou-lhes se acumular empobrecidos nas cidades, ou se “caboclizar” passando fome e miséria.

Quando a expansão urbana, ou o inchaço na cidade se torna uma característica do capitalismo, aumenta-se também a distância entre as “raças” do país trazendo as desigualdades sociais da vida urbana moderna entre brancos dominantes e, negros dominados. É um momento em que se rompe o papel histórico da mulher negra na sociedade e a caracterização do paternalismo nas relações familiares. No caso do pouco número de negros que foram protegidos pelo paternalismo, eles, foram 
responsáveis por um momento histórico de agitação contra a situação oprimida que vivia o negro na sociedade paulistana. Já a mulher negra encontrou maiores oportunidades de se inserir, dentro desse contexto social de inchaço, achou condições melhores e estáveis em relação ao homem negro, encontrava no trabalho doméstico a oportunidade de trabalho, entretanto, a mulher negra tinha que se contentar somente com trabalhos domésticos, muitas vezes em famílias tradicionais, pois encontrava dificuldade em ter outra profissão se não de cuidadora. Quanto ao negro o que sobrava eram trabalhos cada vez mais degradantes, pesados e prejudiciais à saúde, todos aqueles trabalhos que os imigrantes e os brancos nacionais rejeitavam.

No final do século XIX e início do século XX, São Paulo firmado como centro urbano de um crescimento da burguesia, arraigado pelo tradicionalismo, paternalismo,herdado do Antigo Regime, se viu comovido por uma ideia apaixonada de uma teoria do “branqueamento”, a cidade que já era naturalmente criadora de desigualdades pelo seu sistema econômico e político, absorveu o conceito e decretou que os problemas sociais decorriam da “raça” negra, pois o negro estava propenso a vagabundagem,ociosidade, malandragem e a criminalidade. Nina Rodrigues, médico legista, psiquiatra e antropólogo brasileiro, olhava para os negros a partir dos estudos de Cesare Lombroso e de sua visão de médico que ver um problema e procura uma solução, Nina compartilhava da ideia de que o negro teria uma propensão natural desviante, baseado em pesquisas que desconsideravam vários fatores e causas históricas da “população de cor”, fatores como o desamparo social; o abandono; o preconceito racial que reproduz vários estereótipos referentes ao negro pela classe



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